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A História do Bonito Hi Hostel – Parte 1

A História do Bonito Hi Hostel – Parte 1

“CADA NOTA DEIXA EM CADA UM DE NÓS UMA LEMBRANÇA, MAS É A MELODIA INTEIRA QUE CONTA UMA HISTÓRIA” [O ALEPH]

APRESENTAÇÃO:

Sou o Luiz Octavio Campos – fundador do Bonito Hi Hostel – a pedido de muitos amigos, hóspedes, familiares e de funcionários, decidi escrever como nasceu e cresceu o então chamado Bonito Albergue da Juventude, como era o nome ainda na década de 90.

Nasci na Capital do Estado de São Paulo no ano de 1954 – no século passado ! Sou engenheiro civil e de segurança, tenho três filhos, dois paulistanos e um nascido em Bonito, bonitense legítimo. A ideia ocorreu no início da década e 1990, quando não suportava mais viver na capital paulista, almejava por melhor qualidade de vida e segurança.  Primeiro mudei para o interior de SP e em 1996 para Bonito que já conhecia desde 1989. Planejei e construí o sonho de vida para garantir o futuro dos meus filhos que eram dois, um casal, e depois tive mais um menino em Bonito. No início todos diziam que eu era um louco, mas depois de algum tempo perceberam que eu havia apostado na atividade certa, no local certo: turismo ecológico e em Bonito. Então meus país passaram a me ajudar financeiramente porque no início tudo foi muito difícil, não havia boa ocupação porque o destino Bonito era desconhecido da maioria, até mesmo da mídia. E até 2014 minha família me ajudou quando foi necessário, pois o turismo é Sazonal, o Brasil é um país com economia instável, muita burocracia, os juros nos comem pelas beiradas. E o que dizer hoje (Setembro de 2016), após um extenso e traumático processo de impeachment ? E agora em (2019) – hein ?

OBS: o Bonito HI Hostel é uma concessão da Hostelling International que é a maior rede mundial de hospedagem, paga-se uma mensalidade pelo uso da marca HI. Todos os Hostels integrantes da HI (Hostellling International) são concessões; na Europa muitos proprietários(as) são prefeituras de cidades ou governos estaduais / distritos.

HOMENAGEM

Nesses anos todos tenho colaborado muito com estudantes e estagiários de várias áreas em seus trabalhos de faculdade e nas suas monografias, respondendo questionários, além de dicas, etc. É muito gratificante poder ajudar os jovens estudantes e depois de algum tempo receber notícias e agradecimentos da maioria que me escreve contando o quanto foi importante a minha ajuda. Alguns até me enviam os resultados. Como fui um estudante, dou muito valor para quem estuda e sempre estimulo todos a estudar.

Quem estuda coloca seu cérebro em exercício e o encaminha ao raciocínio, abrindo horizontes. Quem não estuda deixa seu cérebro preguiçoso, paralisado, fica um bitolado. O cérebro tem milhões de neurônios, como se fossem milhões de gavetinhas abertas, esperando por informações para armazená-las e salvá-las como salvamos dados nos computadores. Quem estuda cria e quem não estuda copia ! Quanto mais você estudar, mais serão as chances de conseguir um bom emprego ou criar seu próprio negócio. E hoje em dia, também é necessário aprender outros idiomas, sobretudo para quem esta estudando Turismo e Hotelaria. Exercitar o cérebro a raciocinar é o caminho para a cultura que vai te auxiliar para o resto da vida. O estudo vai te dar autoconfiança e possivelmente veia empreendedora. Estude sempre !

Dedico a obra do Bonito HI Hostel e a história dele a todos os estudantes do mundo, aos meus funcionários, meus filhos e familiares e ao compositor e cantor que admiro, Jorge Ben Jor que compôs em uma de suas músicas:

“MORO,… NUM PAÍS TROPICAL,…ABENÇOADO POR DEUS E BONITO POR NATUREZA, MAS QUE BELEZA,..!”

Uma das canções mais lindas de “Frank Sinatra” e sua melodia contam uma história: My Way (Meu Jeito)

Adoro as frases inteligentes, as que, com poucas palavras bem colocadas nos dão respostas certas ou opções de certo ou errado ou orientam de forma certeira, como por exemplo:

Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. [Monteiro Lobato]

“Se nós fizéssemos tudo o que somos capazes, literalmente nos surpreenderíamos”. [Thomas A. Edison]

“Tudo é loucura no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum”. [Monteiro Lobato]

Só que, para entender, compreender o conteúdo dessas frases todas, é preciso estudar, ler muito. O estudo e a cultura ninguém nos rouba.

DESCOBRINDO BONITO

Conheci Bonito quando eu estava perdido no Mato Grosso do “Sul”, tentando encontrar um caminho mais curto para voltar para São Paulo de uma pescaria esportiva no Rio Miranda. Foi no ano de 1.989, eu e meu companheiro de pescarias, Caribê, entramos na cidadezinha de Bonito, um vilarejo, num dia do mês de Agosto daquele ano. Bonito era bem dizendo, uma “currutela”, um lugarejo de agricultores e pecuaristas que usavam chapéu e botinas. O calor era intenso, paramos no largo principal para beber algo gelado e perguntamos logo para o balconista o caminho para seguir para São Paulo. As ruas eram ainda de terra e a poeira subia ao simples passar de uma moto, não havia esgoto canalizado e tratado porque sentimos o odor forte e vimos algumas valetas com esgoto a céu aberto. Saímos de Bonito com má impressão do lugar. Eu nem imaginava o que havia de tantas belezas naturais naquela região, tipo “fim de mundo”, muito menos que em breve estaria morando lá !

PROFISSIONAL E AVENTUREIRO

Eu nunca trabalhei de empregado, desde o início da minha carreira profissional fui dono do meu nariz, no começo eu construía casas em São Paulo em parceria com um amigo de faculdade e depois de alguns anos abri uma construtora. Construí centenas de casas populares e depois me especializei em reformar e construir agências bancárias por aí afora. Sempre gostei mais do mato do que do litoral, desde pequeno eu frequentava as fazendas dos meus tios, aprendi a cavalgar e a remar desde os 5 anos de idade e muitas outras atividades rurais, aventuras malucas. Desde muito jovem aprendi a preservar e a gostar dos animais e aves.

Conheci a Amazônia com 17 anos de idade, ia muito para Goiás e Pará caçar e pescar. Vejam só, naquela época a gente podia caçar. Mas nós matávamos apenas para comer, para não morrer de fome, porque ficávamos em locais muito afastados das cidadezinhas por mais de 20 ou 30 dias. Eu ia junto com os colegas médicos do meu pai que organizavam essas viagens e ficava pedindo para eles escolherem o mês de Julho, nas minhas férias, pois eles sempre faziam as viagens em Agosto. Daí ganhei pelo cansaço, eles passaram a sair em Julho e eu passei a fazer parte da equipe. Naquela época tudo era muito rústico, não havia internet, muito menos celular, ficávamos incomunicáveis por semanas.

QUEIJO E RAFTING

No ano de 1.980 eu já era formado há um ano, fui conhecer uma fábrica de lacticínios (fabrica de queijo e mussarela) que dois amigos meus engenheiros haviam comprado no norte do triangulo mineiro. A cidadezinha era um nada x nada, o nome dela é Tiros. Nossa ! Mas me impressionei com a região, com paisagem linda. Aprendi a fazer queijos e saia de carro por diversas estradinhas por onde trafegavam os caminhões leiteiros que todos os dias coletavam o leite das fazendas. Ás vezes eu ia com eles, madrugava e ajudava a pegar os latões de leite que ficam na beira da estrada. Eu adorava passar alguns dias naquele lugar, na cidade de Tiros.

Em Abril de 1.980 os meus amigos me pediram ajuda no projeto e construção de uma ponte que havia caído, que cruzava o Rio Abaeté que é afluente do Rio São Francisco, o famoso Velho Chico. Fui a Tiros para ver a tal ponte, fotografar, tirar medidas, etc. Só que adorei aquele rio, fiquei horas sentado observando as corredeiras do Rio Abaeté que naquele trecho ainda era um rio estreito e veloz. Por coincidência eu tinha assistido um filme chamado Deliverence com Burt Reynolds como ator principal. O filme se baseia em um Rafting em um rio do Canadá que iria ser coberto (afogado) por uma represa e os amigos resolveram se despedir do rio descendo em canoas do tipo canadense. E aquele rio na minha frente, o som das corredeiras, o cheiro de mato… Não deu outra: voltei para São Paulo e comprei uma canoa canadense de alumínio, dois recks e a canoa amarrada na capota do meu Passat. Convidei um amigo, outro, um primo, mas nenhum deles topou, todos diziam que eu era louco de descer um rio de canoa no meio do sertão de Minas Gerais.

Desenvolvi o projeto da ponte e lá fomos nós, eu e a canoa para o Rio Abaeté. Lá eu consegui um mapa do município com a Prefeitura mas precisava um companheiro para descer o rio porque a canoa precisa de duas pessoas, um só remando ficava quase impossível, instável. E também sempre é bom fazer uma aventura em dupla. Dois dias depois me indicaram um cara apelidado de Zé do Meu Pai. Eu até sabia o nome dele, mas não me lembro mais. Foram 5 dias de aventura e tivemos que desistir porque muitas cachoeiras começaram a surgir, tínhamos que descer por terra, abrir trilhas nas matas e isso nos desgastou.

Também perdemos muitas coisas importantes em duas viradas de canoa em corredeiras extensas e rápidas. Paramos em um acampamento de garimpeiros, caminhei 7 km até a estrada leiteira e lá esperei o caminhão do leite que depois foi buscar o meu companheiro e a canoa. Talvez tenha sido o primeiro Rafting do Brasil, não sei.

CONHECENDO BONITO E A NATUREZA DE BONITO

Um ano após minha primeira entrada na cidade de Bonito, em uma outra pescaria, eu e meus amigos fomos via Bonito para cortar caminho. Uma das nossas caminhonetes estava com problema na suspensão e procuramos por um mecânico. Enquanto esperávamos pelo conserto, fomos dar uma caminhada e cruzamos com um cidadão que veio nos oferecer conhecermos uma gruta e um passeio de cachoeiras. Mas sabe como é pescador, só pensa em chegar na beira do rio para pescar, beber e jogar truco. Agradecemos e ele me deu um cartão de visitas que eu coloquei dentro do meu guia 4 Rodas que até hoje tenho guardado. Foi só em 1.993 que eu fiquei sabendo que em Bonito havia a Gruta do Lago Azul e rios com águas cristalinas. Vejam só, meus pais conheceram Bonito naquele ano por indicação de amigos que residiam em Dourados e antes do Pantanal eles passaram em Bonito. Quando eu vi algumas fotos perguntei onde ficava aquele lugar. Eles me responderam: lá onde você vai pescar, fica em Bonito. Fiquei ligado e curioso. Alguns meses depois deu uma matéria no Globo Repórter com o Francisco José, depois saiu uma matéria no Jornal O Estado de São Paulo no encarte de turismo com fotos coloridas. 

O tempo passou, minha vida sofreu uma reviravolta, fechei minha construtora e parei de pescar. Um dia me peguei pensando em morar no Pantanal, comprar uma chalana e viver carregando pescadores esportivos pelo Rio Paraguai e seus tributários. E no dia seguinte eu já estava planejando uma viagem, decidi pela data e comecei a separar o que eu iria levar. Um dia antes de partir acordei com Bonito na cabeça e pensava assim: puxa, eu podia passar antes em Bonito para conhecer aqueles lugares lindos, ver como é, etc. E lá fui eu…

Era Outubro de 1.995, o calor era bem perto do 40 graus, céu azul sem nuvens e eu entrei naquela agência do cara que tinha me dado o cartão de visitas, Cláudio era o nome dele. A vontade de tomar uma cerveja gelada era grande, perguntei e ele mesmo abriu um freezer e me deu uma trincando de gelada, “nevoada”. Eu tinha rodado 1.300 km e levei mais de 12 horas. Aquela cerveja desceu como um sonífero, fiquei baqueado, zoado, mas depois da 3ª latinha eu relaxei, o Cláudio me levou numa pousadinha onde tomei um banho e capotei na cama. A pousada era bem simples, para tomar banho eu ficava encostando a bunda no lavatório e ás vezes roçava a canela no vaso sanitário. Mas estava tudo bem, o que importava era descansar um pouco e seguir para um rio daqueles com aquelas águas límpidas que eu nunca tinha visto antes no Brasil.

E o Cláudio me mandou para um passeio chamado Cross Dive que hoje é o Bonito Aventura, onde há a flutuação no lindo e maravilhoso Rio Formoso. Fiquei encantado com a beleza do rio, das águas de coloração verde esmeralda e da transparência, além da emoção de descer flutuando através de corredeiras e algumas pequenas quedas d ‘agua. No dia seguinte fui conhecer a deslumbrante Gruta do Lago Azul. No outro dia flutuei no Rio Sucuri que é considerado o rio que tem a água doce mais transparente do mundo. Eu nem conseguia dormir só de lembrar daqueles rios e da gruta. No outro dia fizemos o Passeio de Bote no Rio Formoso e desembarcamos na Ilha do Padre com várias cachoeiras. Havia mais uns 3 passeios naquela época, mas eu queria ainda ir até Corumbá para ver alguma chalana para comprar. Mas confesso que o Pantanal perdeu o brilho depois que conheci Bonito, o Pantanal ficou opaco para mim. Bonito estava me atraindo e eu já de volta a São Paulo me preparava para uma outra ida a Bonito. 

Eu estava começando a namorar a minha 2ª esposa e ela quando viu as fotos de Bonito me disse que tinha uma amiga morando lá – eu até duvidei, achava que ela estava se confundindo. Mas ela estava certa, liguei para a tal amiga que tinha comprado uma fazenda em Bonito e estava criando gado. Marcamos um encontro e mais 15 dias eu estava novamente em Bonito. Daquela 2ª vez fui com a minha namorada e nos encontramos com a amiga dela no único restaurante bom que havia na cidade naquela ocasião, o Restaurante Tapera que até hoje funciona.

Conversa daqui, conversa dali, a mulher me perguntou: – mas o que você pretende fazer aqui em Bonito ? E eu respondi meio na dúvida: – talvez uma pousada ou um hotel. Ela então me disse: – olha, já estão vindo alguns estrangeiros, pense em algo para trabalhar com eles. E eu olhei pensativo para ela, tentando lembrar de algo e lembrei dos amigos que viajavam para a Europa e me contavam que se hospedavam num tal de Hostel ou Hostal que tinha que ter uma carteirinha, essas coisas…

Daí ela me contou que havia encontrado uma enorme caverna em sua fazenda e que estava estudando e analisando a prática do rapel e talvez fosse trabalhar com turismo ecológico. Eu nem prestei muita atenção na conversa dela com a caverna e o rapel, eu já estava pensando como e com quem falar em São Paulo sobre o tal Hostel. E voltando a São Paulo não foi difícil encontrar a APAJ que é a associação dos hostels em São Paulo. Mas só para não esquecer, a caverna dela era o Abismo Anhumas, um dos lugares mais lindos do mundo, onde desde aquela época se pratica o Rapel com flutuação do lago e também o mergulho autônomo. O nome dela é Almira Dias Soares, grande profissional do turismo ecológico de Bonito, muito amiga minha.

Fui muito bem atendido pela Sra. Zezé – Maria José Giaretta – que é uma expert sobre a Hostelling International no mundo, professora de turismo, etc. Dias depois eu estava com a autorização da FBAJ – Federação Brasileira de Albergues da Juventude (Hoje Hi Brasil) que tem sua sede no Rio de Janeiro.

“O lugar é lindo, é Bonito ! Fez-me lembrar da história de como uma cidade de Minas Gerais levou o nome de “Apiaí”. Era lugarejo de passagem de tropeiros montados em seus burros e cavalos e havia uma hospedaria, cujo dono, quando via chegar aquela tropa, já ia logo falando: – apia aí, apia aí. Na verdade, o certo é apeia aí, para dizer para eles descerem dos burros e cavalos, mas os mineiros falam apia aí. E aquele lugar ficou conhecido como APIAÍ. E baseado nessa história e tantas outras similares, presumo que Bonito deve ter sido nomeado de tanto se ouvir as pessoas falarem Bonito, quando viam os rios e as cavernas da região.”


O Terreno

A obra nasceu para ser um Hostel, isto é, não comprei uma casa velha para adaptar e transforá-la. Comprei o terreno e levei três meses projetando e planejando o Hostel.

Rodei por uma semana pelas ruas de terra de Bonito procurando uma área para a construção do Hostel que naquela época chamavam de Albergue da Juventude. Um corretor de imóveis, Sr. Agnaldo, eu e mais uma planta do que existia em Bonito na ocasião que consegui depois de muito insistir. Só tinham uns 4 hotéis naquela época. Daí, depois de saber tudo sobre a cidade, especifiquei para o corretor um quadrilátero no qual me interessava comprar uma boa área. E assim encontrei o terreno do hostel. Coincidentemente o terreno era do lado oeste, lado do Sol poente e me lembrei de um ditado japonês: toda a cidade cresce e progride muito mais do lado do Sol Poente. E eu posso comprovar que é verdade porque conheci outras cidades que se desenvolveram melhor e mais rápido para o Oeste. E Bonito segue o mesmo ditado japonês. 

Terreno comprado, voltei para São Paulo e comuniquei a todos qual era o meu destino: Bonito. Bumm,…e todos ficaram espantados, tristes. Minha namorada foi a primeira a esbravejar, meus filhos, ex-mulher, pai e mãe. Meu pai disse: você ficou louco, vai morar com os índios ?!

A MUDANÇA / O PROJETO

A mudança foi rápida, como eu já morava em Avaré, interior de SP, estava adiantado 240 km a caminho do Mato Grosso do Sul. Minha mudança foi feita com duas viagens de caminhão da Madeireira Avaré, dos grandes amigos que tenho até hoje. 

Fiz o projeto com a minha experiência de engenheiro levando em conta tudo que eu não gostei em vários lugares onde me hospedei em muitas viagens e a filosofia da Hostelling International que prega a integração entre os hóspedes para gerar um clima de boa atmosfera, essas coisas boas.

Demorei uns 40 dias para definir o projeto e comecei a obra pelo Salão de Convívio / Jogos, pois não existia uma árvore que nos desse uma sombra. Pensei: faço o salão primeiro para gerar sombra e proteção com as chuvas. Algumas árvores que hoje estão grandes, eram pequeninas e outras eu plantei depois da inauguração.

Foram 10 meses e meio de dedicação total na construção da 1ª etapa do Hostel. Foi a única obra que fiz sem que alguém interferisse com palpites, até a simples decoração foi idealizada por mim. Fotos das Obras do Hostel

No decorrer da obra pude conhecer os outros passeios que funcionavam na época, Rio do Peixe e Aquário Natural. Comprei uma Kombi pensando no suprimento do Hostel porque naquela ocasião não havia delivery, não existiam vans e micro-ônibus tínhamos que ir buscar tudo nos mercadinhos.

Só os pães a padaria entregava. Fui observando que um dos problemas existentes era com relação ao transporte dos turistas para os passeios. Na época o transporte de turistas era realizado com táxis bem derrubados, carros velhos que estavam acostumados a carregar pessoal  da área rural, das fazendas.

Daí descobriam que eu tinha a Kombi e me ligavam das poucas agências locais solicitando o transporte para grupos acima de 4 pessoas. Gostei do negócio porque eu ficava muito tempo sem ter o que fazer e transportando turistas eu matava o tempo me divertindo, conhecendo gente, conversando, contando e ouvindo piadas. Foi uma época difícil, mas muito boa porque eu logo percebi que um dos maiores problemas que eu enfrentaria, seria com o transporte.

 

A Kombi da foto ao lado ajudou muito no transporte dos hóspedes para os passeios – era do amigo Alexandre Alex Furtado, um gaúcho que apareceu em Bonito naquele tempo, abriu um bar que se chamava Café Rebuah. Depois surgiu com essa Kombi e ficou durante um bom tempo ajudando no transporte. Chama-se Pata da Onça Aventuras. 

AS KOMBIS

E sobre as Kombis – as Kombosas – tenho que descrever algumas passagens. Por exemplo, quando eu levava dez ou até quatorze turistas para os passeios. Ao meu lado, na frente iam dois e na parte traseira mais dez com mais dois no chiqueirinho que fica sobre o motor ! Era um sufoco, mas muito divertido. Dois passageiros usavam banquinhos de madeira. Quando algum dos turistas soltava um pum a galera pedia bandeira amarela, todos desciam até que o cheiro saísse da Kombi. Um pit stop era obrigatório para esticar as pernas quando o passeio era mais distante, para fazer um xixí, fumar um cigarro ou mesmo tirar fotos de algum bicho ou ave que ás vezes aparecia, aparece sempre nos trajetos. Havia também mais duas Kombis, uma do amigo Marcelo Ravagnani e outra da “Pata da Onça Aventuras” do Alex. Lembro de uma galera de “gringos” que me fez parar para fazer fotos do “Antonio Bandeiras” (kkkkk) eu não estava entendendo, mas logo vi o lindo e grande Tamanduá Bandeira que o gringo chamava de Antonio Bandeiras. Foi engraçado – valeu. 

Outra opção de transporte era uma caminhonete D-20 cabine dupla do  saudoso amigo João Ubaldo que tinha uma distribuidora de gás de botijão. Essa caminhonete tinha na traseira uma caçamba e quem optasse por ela pagava menos. O João colocou algumas almofadas na caçamba e ditava as regras obrigando quem os passageiros a seguirem sentados até o passeio de destino.

A obra seguia e o meu dinheiro estava acabando. Eu precisava vender dois imóveis em São Paulo, mas estava difícil de fechar os negócios. Vendi meu carro e minha moto para continuar a obra e por sorte, uns dois meses antes da inauguração, consegui vender um grande terreno em São Paulo para um pastor que representava uma Igreja evangélica. Só pode ter sido coisa de Deus.

Detalhe: nunca houve um acidente com as Kombis, apenas ás vezes, em dias de chuva a gente atolava, mas a galera aventureira descia e pé na lama empurrando e seguíamos viagem. 


Inauguração

A inauguração aconteceu sem querer, sem festa, sem data marcada. A diretora da APAJ veio de São Paulo, observou toda a construção novinha, checou item por item, todos os ambientes e em seguida ligou para a FBAJ no RJ e comunicou o credenciamento do Bonito Albergue da Juventude, como era chamado na época. Sim, mas e daí ?

Maria José – Zezé – então disse: – você tem a Kombi, vamos até a rodoviária esperar o próximo ônibus que chega na cidade. Respondi: – Ok, vai ser ás 20:00 h, o bus que vem de Campo Grande. E lá fomos nós. A rodoviária naquela ocasião era sinistra, feia, escura, com poeira na estiagem e muita lama nas chuvas. Lá ficamos esperando o bus que para variar, chegou mais de 20 minutos atrasado. Mas valeu a pena, chegaram 3 holandeses, um casal e mais um rapaz e o Hostel foi inaugurado – Uhuuu !

Eu entrava na Kombi e ia para a rodoviária e lá sentava na mureta esperando o busão. Nós chamávamos os ônibus de poeirinha, porque naquele tempo ele percorria um trecho de estrada de terra de 130 km, chegava todo empoeirado, as bagagens dos passageiros cobertas de poeira, pois os ônibus eram antigos, sem ar condicionado e a poeira penetrava por todos o cantos. Usei muito esses ônibus, as viagens eram verdadeiras aventuras, o calor insuportável, as janelas abertas para ventilar, mas quando cruzava com outro veículo, entrava muita poeira, quando havia um carro na frente a coisa ficava insuportável. E a estrada era horrível, costelas de vaca que faziam as latas do bus um verdadeira bateria. E quando quebrava ? Vixx !

A Zezé me prometeu trazer um grupo de excursão para o Carnaval desde que eu fizesse uma programação detalhada. Claro que eu fiz. Como já estávamos no final do ano, eu pensava que iria bombar o Hostel a partir do Natal, estava confiante, mas foi a primeira surpresa desagradável. Não havia Internet, não tínhamos website, não estávamos nos guias dos viajantes estrangeiros e nem no guia da Hostelling, nem no guia Brasil. Pior, Bonito não era conhecido, não estava na mídia. O Hostel virou o Natal com média de 15 hóspedes e entramos na alta temporada de verão indo direto com a Kombi na rodoviária pescar turistas, oferecendo nossas instalações. E funcionava, a cada bus que chegava a gente trazia alguns. Naquele tempo o Hostel era bem menor, sua capacidade era de 48 leitos. Depois ampliei um pouco, atingimos 56 leitos. O mês de Janeiro foi terminando e os turistas foram desaparecendo, entrou o mês de Fevereiro ! O Hostel ficou com apenas um hóspede, do RS, o Gaúcho que ficou 31 dias conosco – passou as férias inteiras em Bonito.


Como não consegui obter nenhuma foto do busão antigo, o Poeirinha, acabei encontrando essa foto de um busão jurássico, da época do meu avô. Você reclama dos ônibus de hoje, mas já pensou como era viajar num dino como esse da foto !!?

Cada nota deixa em cada um de nós uma lembrança, mas é a melodia inteira que conta uma história” [O Aleph] 

Confesso que uma noite esperando pelo bus eu pensei comigo: – o que é que eu vim fazer aqui nesse fim de mundo? Lembrava do que meu pai havia dito. Mas não tinha como desistir, era um caminho que não tinha volta, eu tinha que lutar e lutei muito, luto até hoje. Lembro-me dos dias de frio esperando o bus que não chegava e muitas vezes vinha vazio. Outras vezes com calor insuportável enxugando o suor do rosto nas mangas da camiseta que ficavam marrom com a poeira que grudava.

A Zezé trouxe o grupo de excursão para o Carnaval. Foi a salvação porque eu já estava sem dinheiro para pagar as contas de água e luz. Foi um grupo maravilhoso.

SURPRESAS

Essa eu nunca vou esquecer – foi numa noite de Março, um pouco depois do Carnaval. O Hostel estava vazio, com apenas dois hóspedes. Fui á rodoviária pescar mais alguns. Fazia muito calor e eu sentado na mureta conversando com alguns taxistas que não gostavam do meu trabalho de ir buscar turistas argumentando que eu tirava o ganha pão deles. Alguns me maltratavam, me ofendiam, essas coisas de gente ignorante. O ônibus apareceu na esquina pendendo para o lado direito, demonstrando que estava lotado, entrou na rodoviária e eu olhei para dentro dele, vi um monte de gente diferente. Fiquei na frente da porta de saída e comecei a ouvir um idioma estranho e em voz alta. Parecia que estavam brigando, discutindo. Foram saindo do ônibus e a conversa continuava alta com mais deles falando. Notando que um deles era o líder, fui até ele e mandei bala em inglês: – Hi guy, do you have acommodation ? E o rapaz me respondeu em inglês, perguntou o preço da diária, etc. Naquele tempo a diária do Hostel era de R$ 7,00 e o líder me falou que eles estavam em 17 pessoas, que elas queriam pagar R$ 5,00. Entre eles o som era hamesh que em hebrew quer dizer cinco – eles queriam pagar R$ 5,00. Ele adiantou que outros amigos estavam vindo da Bahia e que eu devia fazer preço de R$ 5,00 – eles diziam: hamesh real. Negociei e fechamos a diária por R$ 6,00. Tive que fazer 3 viagens com a Kombi para levar os 17 até o Hostel.

Era um grupo de israelenses. De fato, outros deles foram chegando nos dias seguintes. O líder me pedia para levá-lo no centrinho para ele ligar para mais amigos nas cabines telefônicas. Eu parava no postinho telefônico que existia na época e ele ligava, eu ouvia lá de fora ele falando aquele idioma – o Hebrew: rala, rala lô, lô, etc.

Eles pediam descontos para tudo em inglês e espanhol, diziam: – Hei amigo, hay descuentos para israelitos ? Ficávamos tontos de tantos deles “ablando” e pedindo descontos. O Hostel durante mais de uma semana ficou dominado com os israelitos. Eu nem dormia muito porque eles me sugavam o tempo todo, eu tinha que levá-los nos barzinhos e eles exigiam que eu ficasse bebendo com eles, ensinando português, falando sobre o Brasil,… Foi uma fase difícil mas valeu porque acabei aprendendo um pouco do idioma. E desde aquela época recebemos muitos israelenses durante o ano. Aprendi uma frase que me ajudou bastante: culam bule pô, guever – significa: venham todos aqui, amigo. E quando eles desciam do ônibus eu falava assim: hei guever, culam bule pô ! Eles vinham mesmo e falando na língua deles e eu nada entendia, só respondia em inglês: No guever, just few words in hebrew.

O Hostel foi uma grande surpresa na minha vida em vários aspectos, um deles receber gente dos quatro cantos do mundo, cada qual com seus hábitos, seus idiomas, suas roupas, suas mochilas diferentes, cor da pele, sandálias, etc. Com o passar do tempo a gente acaba ficando com olho clínico, só de olhar o turista se pode, com pouca margem de erro, adivinhar o país dele. Com os israelenses quase não erramos, pois eles têm um tipo característico físico, as roupas, as famosas sandálias e as mochilas inconfundíveis. Os holandeses também têm suas características, os ingleses, outros. Agora, com os orientais fica mais difícil. Com os brasileiros já temos nossos ouvidos afiados, precisamos apenas ouvi-los falar uma frase e já sabemos com pouca margem de erro a região. Com os gaúchos, paulistanos e cariocas acertamos na primeira, pois os sotaques são inconfundíveis. 

A foto ao lado, do ano de 1.998 - de boné azul o Catarino que até hoje transporta os mochileiros em Bonito, do Pantanal e de Campo Grande a Bonito. No sofá, um antigo funcionário, o Ivan, vulgo Goiaba, bilingue.

A foto ao lado, do ano de 1.998 – de boné azul o Catarino que até hoje transporta os mochileiros em Bonito, do Pantanal e de Campo Grande a Bonito. No sofá, um antigo funcionário, o Ivan, vulgo Goiaba, bilingue.

Uma vez entrei no ônibus porque o motorista me disse que tinha um gringo dormindo na última poltrona. O rapaz estava acordando, fui até ele com certeza de que era um israelense porque ele trajava um tipo de roupa e aquela sandália papéte típica. Dei boa noite em hebrew: – Hei guever, laila tov. O cara me olhou estranho. Daí eu falei em inglês e ele me respondeu em português com sotaque de carioca: – Ai mer irrrrmão, sou brasileiro do Rio de Janeiro, falo portugueiissss. E eu cai na risada, o rapaz também, o que facilitou muito porque ele só me seguiu até a Kombi e fomos para o Hostel com ele me metralhando com dezenas de perguntas como todos sempre fazem ao chegar em Bonito.

Durante mais de 3 anos eu transportava muitos turistas para os passeios com a Kombi para defender um dinheirinho a mais. E como naquela época os guias de turismo de Bonito não falavam inglês, eu os ajudava com o meu inglês básico, acompanhava os guias nos passeios, ia traduzindo o que dava, aprendia muito com eles, porque muitas vezes nos falta vocabulário e eles colocam as palavras na nossa boca. E quando isso acontece a gente não esquece mais.

E numa dessas, eu estava fazendo a flutuação do Rio da Prata – uma das melhores de Bonito – a guia era a Narinha que, com muita dificuldade tentava falar em inglês. O grupo era de 8 israelenses desobedientes, daqueles jovens brincalhões que ficam testando o guia para ver até que ponto ele suporta. Daí, um deles pegou uma pedra bem bonita e diferente no leito do rio. A guia disse que ele não podia pegar e também não podia levar nada do rio porque era uma regra de preservação do meio ambiente. O rapaz largou a pedra e fez cara de triste. Ela em seguida disse: – mas lá mais para baixo tem uma pedra que você pode levar. E continuamos flutuando rio abaixo. Depois de uma curva para a esquerda, ela parou, tirou a máscara, todos também tiraram e falou para o rapaz da pedrinha: – aqui esta a pedra que você pode levar, apontando para um enorme pedra que é mais ou menos do tamanho de um fusca.

 

Na foto ao lado, duas irmãs irlandesas que foram as primeiras hóspedes estrangeiras que chegaram no Bonito Hostel.

O mais legal de tudo é poder conversar com os hóspedes, explicar os passeios, dar dicas, etc. Mas hoje em dia isso ficou um pouco mais difícil porque há vários anos passei a bola para os meus filhos, fico mais na parte de manutenção e vou desacelerando a caminho da aposentadoria.

PROPAGANDA

Como não havia Internet, o jeito era conseguir matérias em revistas, jornais e outros meios de comunicação para divulgar o Hostel. E eu me desdobrava em ligar para várias redações, enviava fotos de Bonito, dos passeios e do Hostel. Meus pais me telefonavam ás vezes dizendo que havia saído uma matéria sobre Bonito em tal revista e me enviavam pelo correio um exemplar. Eu então recebia a revista e notava que nada do Hostel continha, só sobre os hotéis caros, só sobre os passeios mais caros, conteúdo para gente abonada, rica. E assim Bonito foi adquirindo um rótulo de destino caro, principalmente para o povo do Estado do Mato Grosso do Sul. Mas um dia senti que as coisas iriam mudar, recebemos uma reserva de uma jornalista da Globo – Rio de Janeiro dizendo que faria uma matéria sobre Bonito.

E eu pensei: será que vai colocar algo sobre o Hostel ? A equipe chegou, fez a matéria e foi a 1ª vez que o Hostel apareceu. Mas a repórter era uma moça nova e o fotógrafo também. Algum tempo depois recebemos uma ligação de uma jornalista da Editora Globo que chegou no final de 1998 para uma matéria completa de Bonito e do Hostel. E o mais importante foi que através dela eu aprendi uma coisa muito importante: por mais que o seu negócio esteja no topo, na melhor fase, a propaganda deve continuar.

E ela não me disse isso diretamente, foi quando procuramos o gerente responsável por um dos passeios mais famosos da época, o passeio que mais recebia turistas. Mas o tal gerente daquele passeio se esquivava, não queria receber a jornalista, dizia que era véspera de Reveillon, que ele não tinha tempo. Mas eu resolvi levar a moça no receptivo do passeio e lá esperar por ele. Estávamos sentados em uma mesa, o tal gerente entrou e eu fui ao encontro dele, expliquei que seria uma matéria em uma das revistas da Editora Globo ou até em mais de uma. Depois de muito insistir ele sentou do nosso lado e ela passou a fazer as perguntas, ele respondia com muita má vontade e cara amarrada, dizia que tinha muito o que fazer. Minutos depois ele disse: nós não precisamos mais de propaganda, nosso passeio vive lotado. A jornalista fez uma cara triste e então olhou bem nos olhos do tal gerente e lhe perguntou: então o senhor acha que a COCA-COLA também não precisa mais fazer propaganda ?!

A pergunta que aquela moça fez ao gerente não serviu para ele mas foi muito útil para mim. Detalhe é que o passeio que era o mais famoso, deixou de ser há muitos anos, agora é muito pouco visitado. O velho ditado continua valendo: A propaganda é a alma do negócio.

Foto com meu filho, Luciano, na base de entrada para o Rapel do Abismo Anhumas quando ele tinha 12 anos de idade. Hoje (2019) ele esta com 32 anos e dirige o Hostel.

A 1ª AMPLIAÇÃO DO HOSTEL

Foi no ano de 1.999 que consegui uma sobra de dinheiro, achei que daria para ampliar o Hostel. Fiz 5 quartos e um banheiro coletivo para atender uma pequena área de camping. Mas o dinheiro não deu, fiquei duro e apelei para meus pais. Veio o socorro financeiro e logo consegui acabar a obra, pouco antes da alta temporada de verão, dias antes do Natal. E tudo correu muito bem, aquela temporada foi ótima. Crédito em bancos sempre foi difícil e com juros exorbitantes, até hoje é e pelo jeito continuará sendo. 

E um ano depois contratei uma empresa para perfurar um poço porque a água fornecida pela empresa era ruim e muito cara. O poço deu certo, muita água e nos livramos de uma conta alta e passamos a ter água pura e cristalina. Embora seja calcária, a água do nosso poço é super limpa e potável, sempre levo para um laboratório para análise em Campo Grande. Com o poço jorrando água de graça, contratei um empresa para fazer a piscina do Hostel e daí por diante as coisas foram melhorando, para nós e para os turistas. A água de graça durou por 11 anos, até que em 2012, por força de lei federal e assinatura de um TAC instalaram um relógio hidrômetro para nos cobrar pelo saneamento básico. 

INTERNET

E chegou a Internet no final de 99 – mas era aquela conexão discada que fazia aquele som esquisito, hora conectava e hora não conectava para o nosso desespero. Montamos o nosso 1º website, depois o 2º que era melhor. Hoje temos a 4ª versão e já estamos pensando na 5ª. Depois da linha discada apareceu uma tal de LP que custava os olhos da cara, depois veio a Internet a antena que era melhor, mas o preço também era mais salgado. Mas logo depois veio a ADSL e em 2017 a Fibra Ótica nos salvou da pior operadora de telefonia e internet do Brasil – não vou citar o nome, só revelar que começa com O. Com a Internet ficou realmente mais fácil, mas ainda assim temos que correr atrás de parcerias e marketing porque muitos brasileiros têm certo preconceito com os Hostels porque eram chamados de Albergues, muitos ainda os chamam de Albergues, pensam que são locais de muita bagunça, barulho e desordem. Bem ao contrário, muitos Hostels são melhores e atendem muito melhor do que vários hotéis e pousadas. Com a vantagem do preço que é muito mais baixo. 

BONITO ENTRE 2009 E 2010

A zona urbana de Bonito só evoluiu a partir de 2008, com a pavimentação de muitas quadras, reforma da Praça da Liberdade, reforma da rodoviária, 100% de saneamento básico com nova e moderna Estação de Tratamento de Esgoto, construção de mais Postos de Saúde e outras pequenas obras nos dois mandatos do Prefeito José Arthur de Figueiredo e sua equipe, sobretudo com o excelente desempenho da Secretaria de Turismo no comando do amigo Augusto Barbosa Mariano. A cidade de Bonito ainda é pequena, menor do que muitos bairros de cidades médias e grandes – o clima é quente, faz lembrar as pequenas cidades do litoral onde quase todos circulam trajando roupas leves: bermudas, camisetas, tênis ou sandálias.

O turismo de Bonito nasceu organizado para preservar o meio ambiente e oferecer segurança para os visitantes. E uma das regras é a obrigatoriedade da utilização de uma agência de turismo local para ter acesso a todos os passeios ecológicos. Quando inaugurei o Bonito Hostel eu não tinha a agência Ecological Tour que existe desde 2003.  Eu vim para Bonito pensando exclusivamente no Hostel, apenas na hospedagem. Utilizei várias agências locais da cidade em regime de parceria mas depois de 7 anos cansei de trabalhar de graça para elas e resolvi criar a Ecological Tour que desde seu início vem tendo sucesso.

Com a agência própria dentro do Hostel tudo ficou muito mais ágil, muito mais fácil e, quem ganhou com isso foram os nossos hóspedes que têm os serviços da agência dentro da hospedagem.

RECADO AOS JOVENS

Assim como eu encontrei um lugar diferente e maravilhoso como Bonito e também usei minha cabeça e lá coloquei o Hostel, que é um estilo diferente de hospedagem, uma maneira diferente de viajar, conhecendo muita gente do mundo todo, aumentando o circulo das amizades, você também pode fazer o mesmo, pois o Brasil é muito grande, há muitos lugares inexplorados esperando por alguém como você.

Tudo que vem fácil e rápido, vai embora fácil e ligeiro – tudo que é conseguido com muita luta, vencendo as dificuldades, resolvendo cada problema na sua hora certa, vale muito mais, dura muito mais tempo. Dê tempo ao tempo, não atropele o tempo. As coisas não acontecem com um simples click.

Bonito com o Hostel foi a aventura da minha vida, mas não foi uma aventura no escuro, dessas de chutar o pau da barraca e sair por aí sem rumo. Eu já tinha dois filhos e precisava fazer algo para garantir o presente e o futuro deles. Sai para Bonito pensando neles, sempre lutei pelo amor que tenho por eles. Eu tinha um certo capital, calculei, planejei e conclui que daria para começar. Acreditei nas maravilhas da natureza de Bonito criadas por Deus, acreditei na organização que Bonito já tinha implantado para preservar o meio ambiente naquela época. Muitos dizem que eu cheguei em Bonito na hora certa e com o produto certo. Por enquanto estou dê acordo, vamos ver o que acontece, pois as coisas não dependem apenas de nós. Bonito e o Hostel dependem dos turistas viajantes do mundo, depende de você. Hoje no mundo globalizado estamos sujeitos ás intempéries dos acontecimentos ao redor da planeta. Um exemplo é a queda do Dólar em relação ao real e outras moedas de outros países. Quem em 2003, quando um Dólar chegou a valer R$ 4, diria que em 2008 ele valeria apenas R$ 1,70 ?! Costumo explicar o que é a globalização assim: hoje, se um cara solta um pum no Japão, em questão de segundos sentimos o cheiro aqui no Brasil. Com humor tudo fica mais leve.

Lembrei de outra passagem – foi em Junho de 1998, com poucos hóspedes no Hostel – naquele período ainda no início de operação, sobretudo porque era um mês de baixa temporada e quase ninguém sabia sobre Bonito. Um pequeno grupo de cariocas, acho que três e no dia seguinte chegou um mineiro daqueles que fala um bucadin, Uai Sô ! O Mineiro se juntou aos cariocas e juntos iam para os passeios. Dias depois entrei na conversa boa com eles no salão de convívio e depois de um tempo ouvimos do carioca líder o seguinte: – no Rio temos a frase com mais vogais do Brasil. E o mineiro perguntou qual era a frase. O carioca disse: ó o auê aí, ó ! Resultando em 8 (oito) vogais. O mineiro ficou pensativo e logo retrucou e disse: – então lá em Minas nós temos uma frase com mais vogais que essa lá do Rio. O carioca meio bravo perguntou: e qual é ? E o mineiro bem calmo disse: – ó o auê aí, uai ! Resultando em 10 vogais. Acabou o papo…Êita mineirinho danado !

REALIZANDO SONHOS DE VIAGENS


Após dois anos operando com o Hostel e o turismo ecológico de Bonito, percebi realmente que eu estava no lugar certo e com o produto certo. Fui levar um casal na rodoviária e antes do ônibus partir, fiquei conversando com os dois. Para minha surpresa ouvi um comentário que me agradou muito e fiquei feliz. Os dois me disseram que sempre viajam e em todas elas, após uns dez dias sentiam vontade de voltar – tipo saudades de casa, dos amigos. Mas com Bonito e o Hostel foi muito diferente. Eles não sentiram vontade de voltar, pelo contrário, estavam com vontade de ficar muito mais tempo conosco e com a natureza de Bonito.

Uma vez li na Revista ISTO É, uma matéria sobre os melhores destinos de turismo ecológico do Brasil. Nessa matéria dizia que os precursores do turismo ecológico organizado foram Bonito no Mato Grosso do Sul e Brotas em São Paulo. Fiquei feliz e me considerei um pioneiro porque estou em Bonito desde 1996.

PÉROLAS DE BONITO

No ano de 1998, na qualidade de proprietário do Bonito Hostel eu já frequentava algumas reuniões, nas quais estavam presentes donos de atrativos (passeios), secretários municipais, integrantes de associações e outras pessoas. Lembro-me de ter ouvido algumas pérolas inesquecíveis como por exemplo: aquela cachoeira é minha – entre dois proprietários, donos de fazendas, um de um lado do Rio Formoso e o outro na outra margem do mesmo rio. Então eles ouviam das autoridades presentes que existia uma lei, na qual constava e consta que os rios são propriedades da União – como se fossem ruas públicas. Mas ainda assim eles ficavam desconfiados, mesmo lendo a lei.

Outra pérola ouvi em outra reunião, na qual comentaram a necessidade do aeroporto. Eu então disse que Bonito precisava antes de uma boa infra-estrutura geral para depois pensar no aeroporto. No entanto, ouvimos de um dono de passeio o seguinte: fazemos o aeroporto e depois essa tal de infra-estrutura. Eu então disse que isso seria colocar a carroça na frente dos burros e ele achou que eu estava o chamando de burro. Eu também disse que primeiro precisávamos um grande esforço político para trazer o asfalto até Bonito. O asfalto ainda nem chegava em Bonito e aquela gente queria aeroporto ! Era um sinal de que os donos de passeios estavam gostando do dinheiro dos turistas, queriam mais.

Naquela época eu também dizia da importância da pavimentação entre Bonito e Bodoquena (72 Km), estrada que liga Bonito ao Pantanal. Eu já naquela ocasião transitava por ela levando e buscando muitos turistas estrangeiros, já tinha dados estatísticos do fluxo de turistas que visitavam o Pantanal e depois seguiam para Corumbá com destino: Bolívia e Peru. Eu também sabia que muitos turistas entravam no Brasil vindos da Bolívia e procuravam por passeios ecológicos no Pantanal, Bonito e depois seguiam para Foz do Iguaçu. Portanto, os 72 Km entre as duas cidades já era prioridade desde o final dos anos 90.

Eu chamo de Analfabeto Numérico a pessoa que cria algum negócio em algum lugar sem antes pesquisar e obter dados estatísticos para analisá-los. É a criatura que segue seus instintos, seus sonhos e sem nenhum dado, aventura-se em um negócio. E em Bonito havia dezenas deles esparramados por aí -São pessoas que conheceram Bonito em períodos das altas temporadas, observaram que tudo estava lotado, se entusiasmaram com os atrativos turísticos e suas infraestruturas maravilhosas, o clima quente e sem nenhum estudo de viabilidade técnico-econômico, sem obter dados estatísticos, venderam tudo em suas cidades de origem e vieram se aventurar em Bonito, construindo ou arrendando pousadas ou hotéis já sem futuro e outros tipos de comércio.

Outra modalidade que me parece, entrou em um círculo vicioso, é o arrendamento de pousadas. Aqui em Bonito sempre tem uma dúzia de pousadas para arrendar – daí o forasteiro que veio como turistas e ficou entusiasmado, volta dias depois para montar alguma coisa aqui na cidade. Na maioria das vezes ele é um Analfabeto Numérico e também é cego, pois esta vendo que a cidade agora esta vazia de turistas porque nesta segunda vez não é mais feriado. Na verdade ele fica cego porque ele quer de qualquer maneira sair da cidade dele que, via de regra, é uma grande cidade, uma capital de estado que esta com graves problemas de segurança, de congestionamento de trânsito e outros. E quando a pessoa esta cega, ela também fica surda, não ouve ninguém e pensa: estão com medo da concorrência.

Nos anos todos que moro em Bonito operando com o turismo e com o Hostel, presenciei muitas pessoas e famílias cegas e surdas arrendarem pousadas e hotéis e depois de algum tempo se afundarem em dívidas, indo embora completamente falidas. Vários até fugiram para não pagarem suas dívidas.

O que vem ocorrendo há muitos anos é que Bonito tem mais leitos de hotel do que a capital, Campo Grande. A oferta de meios de hospedagem é maior que a procura já desde o ano de 2002, fato que levou muitos donos de pousadas e hotéis a arrendarem seus estabelecimentos. No entanto, normalmente quem arrenda é um forasteiro cego e surdo que depois de alguns meses quebra e se vai como uma nuvem passageira; o dono reassume e logo coloca para arrendar novamente, entrando em um círculo vicioso. 

Outro exemplo acontece com as agências de turismo receptivas locais. Como é obrigatório o turista usar uma dessas agências, a quantidade delas ultrapassou o número 40. O forasteiro Analfabeto Numérico chegava e logo percebia que o grande negócio era abrir uma agência e assim fazia. Pior é que ainda hoje tem cego e surdo fazendo o mesmo. Não sei quantas agências operando existem hoje, talvez umas 35, mas com certeza as que funcionam realmente como agências devem ser no máximo dez.

Por outro lado, sou testemunha de várias pessoas que se deram bem, mas não eram cegas e surdas, tinham visão e sabiam ouvir. Na verdade tudo é uma questão básica: cultura. Infelizmente o nosso povo ainda carece de muita educação e cultura e a falta de cultura gera muitos problemas que custam caro para todos.

As pessoas simples, os chamadas simplórias são as mais difíceis de lidar. Lembro-me de uma senhora que tinha uma pousada em Bonito e me chamou para dar palpites quando estava no acabamento de uma reforma. Ela me levou para ver os apartamentos e eu logo observei que em nenhum deles entrava Sol, porque todos davam para uma varanda interna que barrava qualquer incidência de Sol. E assim, eram todos apartamentos escuros, úmidos e com leve cheiro de mofo. Ao entrar no banheiro de um dos aptos. notei que eram muito pequenos e vi algumas caixas de azulejos no chão. Vi uma caixa de azulejo verde escuro para o meu espanto e disse a ela que, como os banheiros eram pequenos, os azulejos deveriam ser brancos e as louças também brancas para aumentar a claridade e com isso transparecer um ambiente maior, mais agradável. A cor branca mostra qualquer pequena sujeira e as louças escuras escondem a sujeira, além de não mostrar a cor da nossa urina e das fezes. É muito importante ver a cor, pois vai que você esta urinando sangue e esta com uma infecção qualquer !

Meu pai era médico e me ensinou coisas básicas. Uma vez perguntei a ele por que os médicos usavam trajes brancos e ele me respondeu: porque os médicos têm que estar sempre limpos e o traje branco logo mostra a sujeira; nos hospitais tudo deve ser na cor branca ou o mais clara possível justamente para contrastar com a sujeira. E na faculdade de engenharia aprendi também que as cores claras aumentam os ambientes e quanto mais escuras elas diminuem os ambientes. É uma questão de ilusão de ótica que funciona, pelo menos melhora. Em uma sala pequena e escura, se você pintar a parede que fica do lado oposto á janela de uma cor bem clara, a sala vai parecer que é maior, porque a luz do dia entra pela janela e bate naquela parede clara e reflete nas outras. Aqui no Hostel as paredes são de tijolos aparentes mas a parede oposta ás janelas têm a cor palha que é bem clara. Os ambientes ficaram claros e agradáveis e as paredes laterais continuam em tijolos aparentes.

Outra coisa bem errada que vejo por aí em todas as cidades, são aparelhos de ar condicionado colocados sob janelas, isto é, debaixo das janelas dos apartamentos. Alem do ar gelado incidir diretamente nas pessoas, a operação de refrescar o ambiente estará prejudicada porque o ar quente sobe e o ar frio desce. Os balões sobem porque o ar dentro deles é aquecido. Então, o ar quente de um apto. fica encostado no forro, na parte mais alta e o aparelho de ar condicionado faz a tiragem do ar quente que esta lá em cima e ao mesmo tempo injeta ar que ele resfria para dentro do apto. Assim sendo, o aparelho de ar condicionado deve ser instalado na parte acima da janela/ porta, para que ele retire aquele ar quente que esta armazenado no alto e injete ar frio que desce e vai refrescando o ambiente. E depois de um tempo ele automaticamente desligue o resfriamento e fique apenas na função de ventilador. Quando se coloca um aparelho de ar condicionado abaixo da janela ele injeta ar frio e retira o mesmo ar frio que injetou, porque o ar quente esta lá para cima, ele não vai descer. Capito ?

Ah,…lembrei de uma pérola incrível

Certa vez um Analfabeto Numérico montou na rua principal uma casa de banho. Acredite se quiser, era uma casa para quem quisesse tomar um banho com duchas especiais, com sabonetes e shampoos especiais e com uma banheira de hidromassagem. Não era uma dessas casas de massagens com mulheres e também não era sauna, era para tomar um banho especial. Inacreditável ! É claro que o negócio não deu certo, aliás, nem bem começou e o dono já estava sendo cobrado pelas lojas de materiais de construção da cidade. Fico imaginando o que essa criatura tinha na cabeça a ponto de bolar e construir uma casa de banho ! Bom, pensando bem o cara não tinha nada na cabeça.Clique aqui e leia a continuação…